quarta-feira, 30 de março de 2011
Por uma infância sem racismo. Vídeo do UNICEF com Lázaro Ramos
AURORA!!!
A NAVALHA SOBRE MINHA PELE PRETA
EXPÕE MEU RUBRO SANGUE
GOTA-A-GOTA.
A VIDA,
DIFÍCIL E ROTA
AOS POUCOS CONSTRÓI UMA POÇA
DE PURA ILUSÃO...
OU NÃO????
(nego jorge ghezo)
segunda-feira, 28 de março de 2011
Minudências, o livro
Apresentação
Tenho acompanhado a literatura de Brasília há cerca de 14 anos e minha biblioteca possui uma prateleira só com livros de escritores daqui. Não por uma opção de prestigiá-los, tão somente. Mas para que eu pudesse, nesses anos todos, ter condições de elaborar uma opinião concreta sobre o que se faz no DF, em termos de letras. Não possuo na minha estante os melhores livros de Brasília. Na verdade, em sua maioria, são intragáveis. Sub-literatura, no seu sentido mais exato. São dezenas de pessoas que se arvoram a autodenominar-se poetas, pelo fato de juntar mil reais e mandar uma gráfica imprimir cem exemplares do que se ousa chamar de poesia. Brasília tem disso, sim. E dá dó, porque o efeito é desastroso. O leitor traumatiza-se e jamais apanhará um outro livro de escritor da cidade, sequer por curiosidade. São publicações sem qualquer critério ou bom senso. Esses escritores aos quais me refiro, quando muito, fazem da sua tiragem um formidável “banco de livro”: uma pilha de livros para sentarem-se as visitas.
Por isso, quando me deparo com pedra rara, solto fogos e mais fogos. E sei que os anjos lá no céu tocam trombetas. Seus textos, Jorge, estão muitos, mas muito mesmo, acima do nível dos poemas aos quais me referi. Bem a propósito da nossa época: curtos, rápidos e objetivos. Sem lengalenga e conversa fiada. São líricos, mas também bem humorados. Todos eles guardam boas surpresas no decorrer do texto e muitos delas reservam para o final, um despacho inesperado. Sem exagero, fiquei espantado. Não sou muito de costurar elogios aos poetas principiantes ou aos que ainda não publicaram, mas seu texto está maduro e consistente. Digno de vir a público. Sempre tive como critério maior para classificar meu gosto por um texto, seja ele em poema ou prosa, quando acabo a leitura digo a mim mesmo: “puxa, este texto eu gostaria de ter feito!” E assim são os seus poemas.
Simão de Miranda, 28 de março de 1997.
O CAVALEIRO E OS MOINHOS
VOCÊ É PURA,
E EU SOU O AVESSO DO AVESSO,
DA PURA LOUCURA.
VOCÊ É SÓLIDA
E EU SOU FLUÍDO
VESTIDO DE SOMBRAS
E ENIGMÁTICO SORRISO
VOCÊ É LOUCA?!
MINUDÊNCIAS
CONTEMPLANDO MINHA PELE NEGRA
PENSO, REFLITO, SUSPIRO
COM MINHAS VENTAS LARGAS
MEU PEITO ABERTO
MEUS BEIÇOS SALIENTES...
RISONHO,
VEJO O PASSADO PRESENTE E,
EM CÂMERA RÁPIDA, VELOZ,
MIRO O ALGOZ NO OLHO
COM UM SORRISO ENTREDENTES
ENQUANTO PREPARO O MOLHO
PARA REGAR AS SEMENTES.
RETRATO FALADO
MINHAS TRANÇAS
TRANSAM BEM COMIGO
ENTRELAÇAM-ME
TRAÇAM TEIAS
DECORANDO MEU COURO CABELUDO.
MAS MINHAS TRANÇAS,
EM MIM
NÃO É TUDO!!!
EXISTÊNCIA
MEÇO O ESPAÇO
ENTRE O QUE PENSO E O QUE FAÇO
ENTRE O QUE DIGO E O QUE OUÇO
ENTRE A BORDA E O FUNDO DO POÇO.
MEÇO A ESTRADA
ENTRE A CHEGADA E A SAÍDA
ENTRE A MINHA E A TUA VIDA
ENTRE O VIVER E O SONHAR.
MEÇO O TEMPO
ENTRE O VI E O VER
ENTRE PASSADO E PRESENTE
ENTRE VIVI E VIVER.
ENTRE EU E VOCÊ
HÁ TODO UM MUNDO REPLETO
DE ABRAÇOS, NOITES, ESTRADAS
TRANÇANDO UMA PONTE DE AMORES
ENTRE O EXISTENTE E O NADA.
REVELAÇÃO
IMERSO EM MEU UMBIGO
NÃO VI
QUE A VIDA ESVAÍA-SE LENTAMENTE
COMO COCHILO EM VIAGEM DE TREM.
QUANDO DEI POR MIM,
A ÁGUA JÁ TINHA PASSADO
POR DEBAIXO DA PONTE!
NOITE
A NAVALHA SOBRE MINHA PELE PRETA
EXPÕE MEU RUBRO SANGUE
GOTA-A-GOTA.
A VIDA, DIFÍCIL E ROTA,
AOS POUCOS CONSTRÓI UMA POÇA
DA MAIS PURA ILUSÃO...
OU NÃO?!
MEDO
SE PARA TI ESCREVO
TODO DIA–A-DIA,
É QUE NO SEGUNDO SEGUINTE
A BOMBA,
POMBA DE TENEBROSAS PENAS,
PODE POUSAR NO PÔR-DO-SOL.
PUZZLE
MINHA INTENÇÃO É DE VIDA
SABER DO OUTRO LADO
DA MARGEM DO RIO.
MINHA INTENÇÃO É NÃO TÊ-LA
E, INTENCIONALMENTE NÃO VÊ-LA,
PREOCUPANDO CABEÇAS COMUNS.
MINHA INTENÇÃO É “UMAS”
NÃO VÊS?!
ESTÁ CLARA EM MINHA RETINA
PARA QUEM TEM OLHOS PARA OUVI-LA.
FUTURO
PASSEI MAIS UM CAIS
DEIXEI PARA TRÁS
MAIS UM PORTO
LEVANDO EM MEU CORAÇÃO ROTO
LEMBRANÇAS IMPESSOAIS.
E LÁ VOU EU VELAS ABERTAS
NO PEITO BRILHOS DE SÓIS
OS PÉS DESCALÇOS, SALGADOS,
DEDOS DE DOMINÓS
LÁ VOU EU ROMPENDO ONDAS
PARA TRÁS SÓ DESERANÇA
LÁ VOU EU VELAS ABERTAS
AO CABO DA BOA ESPERANÇA.
DRUÍDA
DISSESTE QUE VIRIA
NO MEIO DE UM DIA
QUEM SABE, NA CARROCERIA
DE UM TANQUE DE GUERRA.
DISSESTES QUE ABRIRIA
DE NORTE A SUL A TERRA
RESSUSCITANDO O PASSADO
PASSADO ENTRE QUATRO PAREDES.
DISSESTE QUE UM DIA
(QUEM SABE HOJE!)
APARECERIAS QUAL AMAZONA ALADA...
NADA...
NEM MESMO UM RECADO
POR UM JORNAL NACIONAL!
CONFISSÃO
OLHANDO EM TEUS OLHOS
ME VI REFLETIDO,
FRAGMENTADO,
ME VI MAL-AMADO.
ME VI DISPONÍVEL..
OLHANDO-ME NO ESPELHO
ME VI REFLETIDO,
FRAGMENTADO.
ME VI MAL-AMADO...
ME VI DISPONÍVEL!
DELÍRIO, MEU!
UM DISCO
PASSOU
(VOADOR QUE ERA!).
VOLTOU,
OLHOU PARA MIM
PISCOU-ME UM OLHO
E POUSOU NUM FIO
DE ALTA TENSÃO.
SOBRE O AMOR
SE AMAR NÃO SE ENSINA
SENTIMENTO MUITO MENOS
PAIXÃO, AMORES AMENOS
COISAS QUE NÃO SE DESTINA.
SE TEU SIM CONTÉM UM NÃO
SOFRIMENTO NÃO COMOVE
E SE A TERRA POR “SI MOVE”
É DO HOMEM A DESTRUIÇÃO.
NA VERDADE, SENTIMENTO
COMO AMOR NÃO SE ENSINA,
PELO MENOS NO MOMENTO!
POEMA EM PÓ.
APAGO TEU BRILHO
LADINA
COM UM ASSOAR
DE NARINA.
TAPA NA CARA
(EU NUNCA TIVE HERÓIS)
NEM DEUSES
NEM LENNONS
NEM ARRIGOS
NEM CAETANOS.
(EU NUNCA TIVE DEUSAS)
NEM A VIRGEM
NEM MARIA
NEM VOCÊ
QUE ME LÊ...
EU NUNCA TE VI
SÓ EU!
POEMA KAFKIANO
MALDITOS TEMPOS
EM QUE TEMPLOS SÃO BOMBARDEADOS
E QUE A VIDA HUMANANIMAL
NADA VALE
MALDITOS TEMPOS
EM QUE A PAZ É AMALDIÇOADA
E A REALIDADE DA GUERRA CRUEL
É COMPANHEIRA DE QUARTO E SALA.
MALDITOS TEMPOS
EM QUE SOMOS ESCRAVIZADOS.
MALDITOS TEMPOS
EM QUE TEMOS QUE AMALDIÇOAR OS TEMPOS.
SANGUE AFRICANO
MEU SANGUE NEGRO
VICEJA EM MINHA PELE MORENA
LATEGADA
FUSTIGADA
SANGRANTE.
TRANSPARECE EM MINHA EPIDERME
MEU SANGUE AFROBRASILEIRO
VERMELHO
VERDE
AZUL
AMARELO
E PRETO.
BRILHA EM MIM
A ÁFRICA ANCESTRAL
PARA O BEM E PARA O MAL.
PRECISÃO
PRECISO TORNAR-ME
CÉTICO, CÍNICO, CLÍNICO
BOTAR
MINHA BARBA DE MOLHO
FECHAR O OLHO
PARA QUEM NÃO ME VÊ.
PRECISO FICAR
AUTOCONFIANTE
FOCADO
CENTRADO
À BEIRA DO CAMINHO
CURTINDO
A CARA VELA QUEIMAR.
EM VERDADE, NA VERDADE,
PRECISO DE SIZO
DE SORRISOS
A ME NINAR.
ÀFRICA
NEGRO TÁ NA MODA
TÁ NA MIRA
NAS COTAS
NA COZINHA
NOS CRUZAMENTOS
NEGRO TÀ AQUI
TRAFICADO DE LÁ
E TU, NEGRO,
ONDE ESTÁ?!
ANCESTRALIDADE
HOJE ESTOU FELIZ
COMO UM MENINO AFRICANO,
CORRENDO PELAS SAVANAS,
PELAS ESTEPES...
HOJE,
MINHA ALMA NEGRA BRILHA
COMO O IMPÉRIO DE MALI,
COMO SONGHAI
HOJE,
CABEÇA ERGUIDA,
TRILHOS OS CAMINHOS
DE MEUS ANCESTRAIS.
ALTO RETRATO
SOU HOMEM DE MEU TEMPO,
DE MEUS INVENTOS,
FRUTO DE MEU OLHAR.
SER HUMANO EM CONSTRUÇÃO
SOFRO INFLUÊNCIAS DIVERSAS.
DISPERSO, DIVIDIDO, FRÁGIL,
SOU PRESA FÁCIL DO PORVIR.
MAS SOU SER QUE SENTE
E QUE VERSA.
HOMEM DE INTENTOS,
INVENTO CAMINHOS
TENTO CAMINHARES.
POETA,
BUSCO NOVOS ARES.
AUTO POEMA
EU
E MEUS VERSOS,
MEUS PAPÉIS DISPERSOS,
IDÉIAS EMPÍRICAS.
EU E MINHA PICA,
MEU TESÃO, DESEJOS,
DERROTAS, ROTAS, TRILHAS.
EU E MEUS TRILHOS,
MEUS BRILHOS,
BASEADOS,
SECOS E MOLHADOS
EM VERDADE
EU E MEUS SUCESSOS
EU E MEUS FRACASSOS.
ALTO RETRATO DOIS
ALEM DE DIALÉTICO,
SOU DISLÉXICO,
APOPLÉTICO,
MUITAS VEZES ORTODOXO
NOUTRAS MODERNISTA.
(À PROPÓSITO, SOU MEIO DESLIGADO,
FOCADO
EM TEMAS PUERIS!)
QUASE ARTISTA
PROFESSO PRETENSAS VERDADES.
COMETO VERSOS,
PENSO QUE PENSO,
TENTO, SUSPENSO,
MANTER-ME COESO.
ACESO, TESO, TENSO,
DESEJO SER POETA.
E RIO
DE MEU BOM SENSO!
IMAGEM
VALHO O QUE PAREÇO,
O QUE POSSUO,
O QUE POSSO
PAGAR,
O LUGAR,
O SETOR,
O ESTADO,
O QUE REFLITO,
COMO ME DECORO,
QUAL MEU LEIAUTE,
QUAL A MARCA,
QUAL A CÉDULA,
A QUE CÉLULA
SECULAR PERTENÇO.
MAS,
VALHO
O QUE PENSO?
CAMINHOS
QUASE INVISÍVEL
PRESENTE EM EXCESSO
APENAS PASSO.
GUERREIRO TÁTICO,
PARANÓICO,
DESTRONADO,
BEIRO O DESESPERO
BAILANDO
ENTRE PRÍNCIPE
E SAPO.
MUNDO
DEUS
NÃO DÁ ASA A COBRA...
SORTE!
SOU LEÃO
SOU CÃO,
SOU JOSÉ.
E DEUS,
SE QUISER,
NÃO VAI SE METER
NESTA HISTÓRIA!
DEFINIÇÃO
SIGO ESTRELAS,
APOSTO EM SONHOS.
SOU SOUL!
MEU ROCK É ROOTS,
MEU SAMBA É MUTANTE,
MEU RAP É CIDADÃO.
MEU BLUES, MEU JAZZ, MEU CHORINHO,
SOAM BAIÃO!
CONVEXIDADE
NÃO TENTE ME ENQUADRAR
POIS TEU SONHAR É REDUZIDO
LIMITADO DE LADO A LADO
POR ARQUÉTIPOS VENCIDOS
NEM TENTE ANALISAR
O QUE JÁ SAI TRADUZIDO
ARTICULADO EM SONS
COM FORTES TONS DE DORMIDO.
COMO ME QUALIFICAR
SE VOCÊ PRECISA DE ESPELHO
PARA ENXERGAR TEUS DOIS OLHOS
E SABER DE TEU CORPO INTERNO?
BRASIL
NÃO É QUE EU FAÇA
QUESTÃO DE SER FELIZ
SÓ QUERIA QUE PARASSEM
DE MORRER DE FOME DE LETRAS
A UM PALMO
DE MEU NARIZ.
(Não confie em ninguém com mais de 30 poemas)
PRONTUÁRIO DO COMETEDOR DOS VERSOS.
José Jorge, vulgo nego Jorge ghezo, vulgo baiano, vulgo negão, vulgo professor... dito e desdito, construído e construindo, mas quase sempre, inventado.
Nascido no recôncavo baiano, na cidade de Castro Alves, na Bahia, cidade que já doou pro Brasil, guerrilheira do tempo de Dilma.
É, agora, calango criado, tostado, formado e deformado pelo sertão goiano-brasiliense.
Negro quase preto, é traficante de idéias e homizia-se na Cidade do Gama onde “A Casa é Grande, a Ponte é Alta,a Porta é Aberta e a Cidadania, escancarada!”.
Contato: negojorgeghezo@gmail.com
Tenho acompanhado a literatura de Brasília há cerca de 14 anos e minha biblioteca possui uma prateleira só com livros de escritores daqui. Não por uma opção de prestigiá-los, tão somente. Mas para que eu pudesse, nesses anos todos, ter condições de elaborar uma opinião concreta sobre o que se faz no DF, em termos de letras. Não possuo na minha estante os melhores livros de Brasília. Na verdade, em sua maioria, são intragáveis. Sub-literatura, no seu sentido mais exato. São dezenas de pessoas que se arvoram a autodenominar-se poetas, pelo fato de juntar mil reais e mandar uma gráfica imprimir cem exemplares do que se ousa chamar de poesia. Brasília tem disso, sim. E dá dó, porque o efeito é desastroso. O leitor traumatiza-se e jamais apanhará um outro livro de escritor da cidade, sequer por curiosidade. São publicações sem qualquer critério ou bom senso. Esses escritores aos quais me refiro, quando muito, fazem da sua tiragem um formidável “banco de livro”: uma pilha de livros para sentarem-se as visitas.
Por isso, quando me deparo com pedra rara, solto fogos e mais fogos. E sei que os anjos lá no céu tocam trombetas. Seus textos, Jorge, estão muitos, mas muito mesmo, acima do nível dos poemas aos quais me referi. Bem a propósito da nossa época: curtos, rápidos e objetivos. Sem lengalenga e conversa fiada. São líricos, mas também bem humorados. Todos eles guardam boas surpresas no decorrer do texto e muitos delas reservam para o final, um despacho inesperado. Sem exagero, fiquei espantado. Não sou muito de costurar elogios aos poetas principiantes ou aos que ainda não publicaram, mas seu texto está maduro e consistente. Digno de vir a público. Sempre tive como critério maior para classificar meu gosto por um texto, seja ele em poema ou prosa, quando acabo a leitura digo a mim mesmo: “puxa, este texto eu gostaria de ter feito!” E assim são os seus poemas.
Simão de Miranda, 28 de março de 1997.
O CAVALEIRO E OS MOINHOS
VOCÊ É PURA,
E EU SOU O AVESSO DO AVESSO,
DA PURA LOUCURA.
VOCÊ É SÓLIDA
E EU SOU FLUÍDO
VESTIDO DE SOMBRAS
E ENIGMÁTICO SORRISO
VOCÊ É LOUCA?!
MINUDÊNCIAS
CONTEMPLANDO MINHA PELE NEGRA
PENSO, REFLITO, SUSPIRO
COM MINHAS VENTAS LARGAS
MEU PEITO ABERTO
MEUS BEIÇOS SALIENTES...
RISONHO,
VEJO O PASSADO PRESENTE E,
EM CÂMERA RÁPIDA, VELOZ,
MIRO O ALGOZ NO OLHO
COM UM SORRISO ENTREDENTES
ENQUANTO PREPARO O MOLHO
PARA REGAR AS SEMENTES.
RETRATO FALADO
MINHAS TRANÇAS
TRANSAM BEM COMIGO
ENTRELAÇAM-ME
TRAÇAM TEIAS
DECORANDO MEU COURO CABELUDO.
MAS MINHAS TRANÇAS,
EM MIM
NÃO É TUDO!!!
EXISTÊNCIA
MEÇO O ESPAÇO
ENTRE O QUE PENSO E O QUE FAÇO
ENTRE O QUE DIGO E O QUE OUÇO
ENTRE A BORDA E O FUNDO DO POÇO.
MEÇO A ESTRADA
ENTRE A CHEGADA E A SAÍDA
ENTRE A MINHA E A TUA VIDA
ENTRE O VIVER E O SONHAR.
MEÇO O TEMPO
ENTRE O VI E O VER
ENTRE PASSADO E PRESENTE
ENTRE VIVI E VIVER.
ENTRE EU E VOCÊ
HÁ TODO UM MUNDO REPLETO
DE ABRAÇOS, NOITES, ESTRADAS
TRANÇANDO UMA PONTE DE AMORES
ENTRE O EXISTENTE E O NADA.
REVELAÇÃO
IMERSO EM MEU UMBIGO
NÃO VI
QUE A VIDA ESVAÍA-SE LENTAMENTE
COMO COCHILO EM VIAGEM DE TREM.
QUANDO DEI POR MIM,
A ÁGUA JÁ TINHA PASSADO
POR DEBAIXO DA PONTE!
NOITE
A NAVALHA SOBRE MINHA PELE PRETA
EXPÕE MEU RUBRO SANGUE
GOTA-A-GOTA.
A VIDA, DIFÍCIL E ROTA,
AOS POUCOS CONSTRÓI UMA POÇA
DA MAIS PURA ILUSÃO...
OU NÃO?!
MEDO
SE PARA TI ESCREVO
TODO DIA–A-DIA,
É QUE NO SEGUNDO SEGUINTE
A BOMBA,
POMBA DE TENEBROSAS PENAS,
PODE POUSAR NO PÔR-DO-SOL.
PUZZLE
MINHA INTENÇÃO É DE VIDA
SABER DO OUTRO LADO
DA MARGEM DO RIO.
MINHA INTENÇÃO É NÃO TÊ-LA
E, INTENCIONALMENTE NÃO VÊ-LA,
PREOCUPANDO CABEÇAS COMUNS.
MINHA INTENÇÃO É “UMAS”
NÃO VÊS?!
ESTÁ CLARA EM MINHA RETINA
PARA QUEM TEM OLHOS PARA OUVI-LA.
FUTURO
PASSEI MAIS UM CAIS
DEIXEI PARA TRÁS
MAIS UM PORTO
LEVANDO EM MEU CORAÇÃO ROTO
LEMBRANÇAS IMPESSOAIS.
E LÁ VOU EU VELAS ABERTAS
NO PEITO BRILHOS DE SÓIS
OS PÉS DESCALÇOS, SALGADOS,
DEDOS DE DOMINÓS
LÁ VOU EU ROMPENDO ONDAS
PARA TRÁS SÓ DESERANÇA
LÁ VOU EU VELAS ABERTAS
AO CABO DA BOA ESPERANÇA.
DRUÍDA
DISSESTE QUE VIRIA
NO MEIO DE UM DIA
QUEM SABE, NA CARROCERIA
DE UM TANQUE DE GUERRA.
DISSESTES QUE ABRIRIA
DE NORTE A SUL A TERRA
RESSUSCITANDO O PASSADO
PASSADO ENTRE QUATRO PAREDES.
DISSESTE QUE UM DIA
(QUEM SABE HOJE!)
APARECERIAS QUAL AMAZONA ALADA...
NADA...
NEM MESMO UM RECADO
POR UM JORNAL NACIONAL!
CONFISSÃO
OLHANDO EM TEUS OLHOS
ME VI REFLETIDO,
FRAGMENTADO,
ME VI MAL-AMADO.
ME VI DISPONÍVEL..
OLHANDO-ME NO ESPELHO
ME VI REFLETIDO,
FRAGMENTADO.
ME VI MAL-AMADO...
ME VI DISPONÍVEL!
DELÍRIO, MEU!
UM DISCO
PASSOU
(VOADOR QUE ERA!).
VOLTOU,
OLHOU PARA MIM
PISCOU-ME UM OLHO
E POUSOU NUM FIO
DE ALTA TENSÃO.
SOBRE O AMOR
SE AMAR NÃO SE ENSINA
SENTIMENTO MUITO MENOS
PAIXÃO, AMORES AMENOS
COISAS QUE NÃO SE DESTINA.
SE TEU SIM CONTÉM UM NÃO
SOFRIMENTO NÃO COMOVE
E SE A TERRA POR “SI MOVE”
É DO HOMEM A DESTRUIÇÃO.
NA VERDADE, SENTIMENTO
COMO AMOR NÃO SE ENSINA,
PELO MENOS NO MOMENTO!
POEMA EM PÓ.
APAGO TEU BRILHO
LADINA
COM UM ASSOAR
DE NARINA.
TAPA NA CARA
(EU NUNCA TIVE HERÓIS)
NEM DEUSES
NEM LENNONS
NEM ARRIGOS
NEM CAETANOS.
(EU NUNCA TIVE DEUSAS)
NEM A VIRGEM
NEM MARIA
NEM VOCÊ
QUE ME LÊ...
EU NUNCA TE VI
SÓ EU!
POEMA KAFKIANO
MALDITOS TEMPOS
EM QUE TEMPLOS SÃO BOMBARDEADOS
E QUE A VIDA HUMANANIMAL
NADA VALE
MALDITOS TEMPOS
EM QUE A PAZ É AMALDIÇOADA
E A REALIDADE DA GUERRA CRUEL
É COMPANHEIRA DE QUARTO E SALA.
MALDITOS TEMPOS
EM QUE SOMOS ESCRAVIZADOS.
MALDITOS TEMPOS
EM QUE TEMOS QUE AMALDIÇOAR OS TEMPOS.
SANGUE AFRICANO
MEU SANGUE NEGRO
VICEJA EM MINHA PELE MORENA
LATEGADA
FUSTIGADA
SANGRANTE.
TRANSPARECE EM MINHA EPIDERME
MEU SANGUE AFROBRASILEIRO
VERMELHO
VERDE
AZUL
AMARELO
E PRETO.
BRILHA EM MIM
A ÁFRICA ANCESTRAL
PARA O BEM E PARA O MAL.
PRECISÃO
PRECISO TORNAR-ME
CÉTICO, CÍNICO, CLÍNICO
BOTAR
MINHA BARBA DE MOLHO
FECHAR O OLHO
PARA QUEM NÃO ME VÊ.
PRECISO FICAR
AUTOCONFIANTE
FOCADO
CENTRADO
À BEIRA DO CAMINHO
CURTINDO
A CARA VELA QUEIMAR.
EM VERDADE, NA VERDADE,
PRECISO DE SIZO
DE SORRISOS
A ME NINAR.
ÀFRICA
NEGRO TÁ NA MODA
TÁ NA MIRA
NAS COTAS
NA COZINHA
NOS CRUZAMENTOS
NEGRO TÀ AQUI
TRAFICADO DE LÁ
E TU, NEGRO,
ONDE ESTÁ?!
ANCESTRALIDADE
HOJE ESTOU FELIZ
COMO UM MENINO AFRICANO,
CORRENDO PELAS SAVANAS,
PELAS ESTEPES...
HOJE,
MINHA ALMA NEGRA BRILHA
COMO O IMPÉRIO DE MALI,
COMO SONGHAI
HOJE,
CABEÇA ERGUIDA,
TRILHOS OS CAMINHOS
DE MEUS ANCESTRAIS.
ALTO RETRATO
SOU HOMEM DE MEU TEMPO,
DE MEUS INVENTOS,
FRUTO DE MEU OLHAR.
SER HUMANO EM CONSTRUÇÃO
SOFRO INFLUÊNCIAS DIVERSAS.
DISPERSO, DIVIDIDO, FRÁGIL,
SOU PRESA FÁCIL DO PORVIR.
MAS SOU SER QUE SENTE
E QUE VERSA.
HOMEM DE INTENTOS,
INVENTO CAMINHOS
TENTO CAMINHARES.
POETA,
BUSCO NOVOS ARES.
AUTO POEMA
EU
E MEUS VERSOS,
MEUS PAPÉIS DISPERSOS,
IDÉIAS EMPÍRICAS.
EU E MINHA PICA,
MEU TESÃO, DESEJOS,
DERROTAS, ROTAS, TRILHAS.
EU E MEUS TRILHOS,
MEUS BRILHOS,
BASEADOS,
SECOS E MOLHADOS
EM VERDADE
EU E MEUS SUCESSOS
EU E MEUS FRACASSOS.
ALTO RETRATO DOIS
ALEM DE DIALÉTICO,
SOU DISLÉXICO,
APOPLÉTICO,
MUITAS VEZES ORTODOXO
NOUTRAS MODERNISTA.
(À PROPÓSITO, SOU MEIO DESLIGADO,
FOCADO
EM TEMAS PUERIS!)
QUASE ARTISTA
PROFESSO PRETENSAS VERDADES.
COMETO VERSOS,
PENSO QUE PENSO,
TENTO, SUSPENSO,
MANTER-ME COESO.
ACESO, TESO, TENSO,
DESEJO SER POETA.
E RIO
DE MEU BOM SENSO!
IMAGEM
VALHO O QUE PAREÇO,
O QUE POSSUO,
O QUE POSSO
PAGAR,
O LUGAR,
O SETOR,
O ESTADO,
O QUE REFLITO,
COMO ME DECORO,
QUAL MEU LEIAUTE,
QUAL A MARCA,
QUAL A CÉDULA,
A QUE CÉLULA
SECULAR PERTENÇO.
MAS,
VALHO
O QUE PENSO?
CAMINHOS
QUASE INVISÍVEL
PRESENTE EM EXCESSO
APENAS PASSO.
GUERREIRO TÁTICO,
PARANÓICO,
DESTRONADO,
BEIRO O DESESPERO
BAILANDO
ENTRE PRÍNCIPE
E SAPO.
MUNDO
DEUS
NÃO DÁ ASA A COBRA...
SORTE!
SOU LEÃO
SOU CÃO,
SOU JOSÉ.
E DEUS,
SE QUISER,
NÃO VAI SE METER
NESTA HISTÓRIA!
DEFINIÇÃO
SIGO ESTRELAS,
APOSTO EM SONHOS.
SOU SOUL!
MEU ROCK É ROOTS,
MEU SAMBA É MUTANTE,
MEU RAP É CIDADÃO.
MEU BLUES, MEU JAZZ, MEU CHORINHO,
SOAM BAIÃO!
CONVEXIDADE
NÃO TENTE ME ENQUADRAR
POIS TEU SONHAR É REDUZIDO
LIMITADO DE LADO A LADO
POR ARQUÉTIPOS VENCIDOS
NEM TENTE ANALISAR
O QUE JÁ SAI TRADUZIDO
ARTICULADO EM SONS
COM FORTES TONS DE DORMIDO.
COMO ME QUALIFICAR
SE VOCÊ PRECISA DE ESPELHO
PARA ENXERGAR TEUS DOIS OLHOS
E SABER DE TEU CORPO INTERNO?
BRASIL
NÃO É QUE EU FAÇA
QUESTÃO DE SER FELIZ
SÓ QUERIA QUE PARASSEM
DE MORRER DE FOME DE LETRAS
A UM PALMO
DE MEU NARIZ.
(Não confie em ninguém com mais de 30 poemas)
PRONTUÁRIO DO COMETEDOR DOS VERSOS.
José Jorge, vulgo nego Jorge ghezo, vulgo baiano, vulgo negão, vulgo professor... dito e desdito, construído e construindo, mas quase sempre, inventado.
Nascido no recôncavo baiano, na cidade de Castro Alves, na Bahia, cidade que já doou pro Brasil, guerrilheira do tempo de Dilma.
É, agora, calango criado, tostado, formado e deformado pelo sertão goiano-brasiliense.
Negro quase preto, é traficante de idéias e homizia-se na Cidade do Gama onde “A Casa é Grande, a Ponte é Alta,a Porta é Aberta e a Cidadania, escancarada!”.
Contato: negojorgeghezo@gmail.com
terça-feira, 22 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
The Rolling Stones and Buddy Guy - Champagne and Reefer - Live 2006
UM BLUES
uma canção invade o palco
e os versos
tem cheiro de blues, garota.
a letra diz que esse blues é para você,
e este solo de guitarra é para você relembrar
DAQUELES BELOS TEMPOS
E o blues fluía, garota
como se o mississipi fosse um quilombo
como se fosse palmares
e zumbi viajasse nas palavras do blues
e o blues, garota
preenchia a noite e espalhava teu cheiro
agreste
enquanto um solo de guitarra,
invadia o palco.
e este blues é para você garota
e é para relembrar-mos os velhos tempos
(jorge Ghezo)
poesias
BRILHO D'ALMA
a madrugada trouxe a lucidez
brilhante que defenestrou
as brumas de minha travessia.
enquanto eu ria
o outro, o oposto, num esgar
me acenava da outra margem...
eu, alheio, claudicante
calmamente, segui o dia.
(Jorge Ghezo)
À PARTE
a metade que em
em mim se abate
apresenta-se nua e crua.
insidiosa e insinuante
espreita-me pela vida...
mas a outra parte, ladina,
esgueira-se com sua lira
traça pentagramas em minh!alma
sorve néctares de sonhos
e isso a nós acalma.
(Jorge Ghezo)
a madrugada trouxe a lucidez
brilhante que defenestrou
as brumas de minha travessia.
enquanto eu ria
o outro, o oposto, num esgar
me acenava da outra margem...
eu, alheio, claudicante
calmamente, segui o dia.
(Jorge Ghezo)
À PARTE
a metade que em
em mim se abate
apresenta-se nua e crua.
insidiosa e insinuante
espreita-me pela vida...
mas a outra parte, ladina,
esgueira-se com sua lira
traça pentagramas em minh!alma
sorve néctares de sonhos
e isso a nós acalma.
(Jorge Ghezo)
Outros poemas
ALMA
traficante de idéias
ofereço poemas destacáveis
(gigolô de palavras que sou!).
negro, metido a besta,
exploro letras
pontuações...
pirateio poetas.
atleta noturno
rio para ti
fluxo e refluxo?
sem saber, paciência,
de tuas minudências.
(Jorge ghezo)
TRAFICANTES DE IDÉIAS
consumidores de cultura
cursamos córregos, rios,
nascentes crispinianas
acomodamos margens diferentes
nativos, negros, brancos chegantes
amalgamamos quilombos
semeamos
sementes de ipês
brancas flores de pequis
caliandras
gigolôs de palavras
prescrutamos trens pantaneiros
ao som de timbres de violas enluaradas
ladinos,
vivemos em planaltos capitais
ao som de cachoeiras
e sombras retorcidas...
(Jorge ghezo)
CORAÇÃO DE LEÃO
um coração leonino
quando se parte
não tem regeneração
nem remendo
mesmo que se tente
fica algo doente
corte que não cicatriza...
um coração leonino
é frágil como a primavera
é doce como o outono
é forte como um menino.
(Jorge ghezo)
CHUTE
entre meu pé e o gol
uma história de amor
entre meu chute e a defesa
beijos sobre a mesa
entre o escanteio e o cabeceio
meus lábios, teus seios.
entre o que penso e a torcida
desejo, sonhos, vida.
entre o que penso e o que planejo
plano de jogo, taticas.
entre meu drible e o sonho
sou o que sôo
sobbreponho.
(Jorge ghezo)
TONS
gente que toca
me invoca
me deixa encantado.
ouvinte,
rumino versos
tento me descrever!
consumidor
ligo a vitrola
olho a hora
junto o tempo
e engravido o agora!
(jorge ghezo)
feminina
estampada, chapada,
ouvindo ana carolina
trafego por esquinas
bocas, ruas rotas
à cata...
gatas, gatos, vira-latas
me fazem companhia
sozinha, misturo-me
com a noite.
o açoite,
é coisa minha...
LIVRO
detalhe na estante
instantes captados
gravados em letras.
a lombada, o cheiro
o sentir inteiro
lembranças materializadas.
livro é confissão
minudências
paixão.
(Jorge Ghezo)
Assinar:
Postagens (Atom)